DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

     É com profundo pesar que professores, técnicos administrativos em educação e estudantes do Departamento de Filosofia comunicam a passagem do Professor Osvaldo Gomes Coelho, nosso decano da militância, que nos deixa nesse 30 de abril de 2020. Primeiro candidato a governador do Amazonas pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições de 1982. Primeiro Presidente da nossa ADUA, “véia de guerra”, fundada em 1979. Nascido em 30 de novembro de 1936, Prof. Osvaldo Coelho é egresso da primeira turma do Curso de Filosofia, criado em 1961, e atuou por vários anos na formação de bacharéis e professores em filosofia no Amazonas. Seu nome entra para o memorial dos que lutaram pela justiça social e pelos direitos dos subalternizados; dos que defenderam a educação pública, laica, gratuita, universal, de qualidade e socialmente referenciada; dos que nunca fizeram acordo com os dominantes. Professor Osvaldo Gomes Coelho, Presente!

   

 

AO JARDINEIRO QUE PARTIU

Prof. Luiz Fernando de Souza – DCS-UFAM

 

Era um espécie de jardineiro a cultivar o jardim das mais belas utopias na cidade no encontro entre dois rios.

Nesse cultivo, esteve nos momentos de nascimento do Partido dos Trabalhadores, que aquela altura era um desaguadouro de todas as lutas contra a ditadura.

O jardineiro foi o primeiro candidato à governador da esquerda no lento processo de reabertura política.

O jardineiro cultivava Filosofia e formou gerações de semeadores do saber filosófico.

O jardineiro entendeu o ato de filosofar como uma um movimento na direção da modificação do mundo (a interpretação já estava suprassumida aí) e por isso cuidou de defender a educação pública, uma educação para a cidadania e a revolução.

O jardineiro nunca se iludiu pelos cantos do reformismo e saiu a semear uma práxis docemente intransigente contra as alianças fáceis e enganadoras.

O jardineiro esteve presente nas duras greves em defesa da universidade pública.

Nos tempos dos governos progressistas, que surfavam na onda das commodities e da contradição entre política social e superávit primário, o jardineiro não fez concessões. Suas flores nunca foram para o cultivo em pântanos.

O jardineiro esteve nas ruas, nas lutas. Aposentado como professor, nunca se aposentou dos embates em defesa de sua categoria, do conjunto da classe trabalhadora. Sempre íamos encontrá-lo nas assembleias do seu sindicato, do qual foi o primeiro presidente, a estimular os “meninos e meninas” que agora estavam na linha de frente.

Nos últimos anos, os olhos do jardineiro já deixavam de enxergar, mas o pensamento, este via mais longe e mais profundo do que muitos “meninos” seduzidos por um tal de produtivismo acadêmico.

E hoje, véspera do dia do trabalhador, o coração do jardineiro parou de bater.

Não vamos mais ter fisicamente aquele jardineiro a caminhar altaneiro, cabeça sempre erguida, coluna reta, como um autêntico revolucionário, nas fileiras das lutas do mundo do trabalho, no Auditório da Véia de Guerra, nas marchas nas ruas de Manaus, nos corredores da Universidade Federal do Amazonas.

O jardineiro se foi após muito semear. Aos que ficam cabe a tarefa de continuar o cultivo do jardineiro amável, gentil, camarada.

A tarefa é enorme, pois o jardineiro viveu a efetividade de uma tese há muito escrita: “Os filósofos não fizeram mais que interpretar o mundo de forma diferente; trata-se porém de modificá-lo”.

Obrigado, querido Jardineiro

PROFESSOR OSVALDO COELHO, PRESENTE!